Ensinos sobre relacionamentos interpessoais, o ministério paulino e o foco da vida cristã em Deus.
2 Coríntios 2-4
O apóstolo Paulo discorre, com sutileza, sobre os sofrimentos e as tribulações por que estava passando, reconhecendo que, igualmente, os seus irmãos em Corinto deveriam ser fortes para transporem os obstáculos. Busca consolação, consolando-os também. Menciona um determinado momento tenebroso, no qual pensou que fosse perder a vida.
É oportuno registrar que, absolutamente, Paulo não pensou em tirar a sua própria vida, mas revela que temeu que não fosse escapar daquela situação tão difícil (ver II Coríntios 1. 8). Ao invés de esconder os problemas, conforme alguns líderes insistem em fazer, o apóstolo declara sua situação desesperadora. Pena não sabermos mais detalhes do seu livramento.
Vemos que a atitude paulina, porém, não se assemelha em nada a daqueles que fazem alarido de todo livramento, quando este lhes pode trazer qualquer projeção. Ele esmiúça o seu discurso, explicando o seu propósito em ir visitá-los, mas também se justificava, por ainda não o ter feito. Reafirma-lhes que, em Cristo Jesus, há um sim de Deus. Com alegria, lembra-lhes que Ele os selou com o Seu Espírito. A visita, pela disposição do apóstolo, se daria com alegria. Paulo primava por um bom relacionamento em Cristo.
RECOMENDAÇÕES A RESPEITO DOS RELACIONAMENTOS ENTRE OS CRENTES
Muitos acusavam Paulo de não dizer tudo com clareza. Ele declarava que não havia nada oculto em suas palavras. Afinal, sabemos do seu cuidado ao escolhê-las, pois não queria prejudicar o relacionamento com aqueles crentes, não queria ofendê-los. Amava-os e desejava muito que eles ficassem firmes no Evangelho. Aliás, o apóstolo Tiago referiu-se com maestria a este respeito (ver Tiago 3. 2). Os crentes coríntios mereciam alguma admoestação, todavia Paulo sabia que deveria repreendê-los com amor. Ao ser tomado por este espírito apaziguador, o discurso apostólico percorrerá os meandros daquela igreja, buscando não ferir as sensibilidades dos crentes, todavia, sabiamente, orientando a conduta cristã.
UMA AVALIAÇÃO DO MINISTÉRIO PAULINO
Sabemos que tem faltado, muitas vezes, à igreja atual um tratamento mais amoroso e menos legalista a certas questões eclesiásticas. Há alusão à atitude que a igreja estava dispensando a certa pessoa (possivelmente àquele que mantivera relações sexuais com a madrasta- ver I Coríntios 5).
Se este era mesmo o assunto em pauta, vemos que Paulo convoca a todos ao exercício do amor (ver capítulo 2, versos de 5 a 8). É maior o número dos que gostam de ferir com toda força, que o daqueles que se dispõe a fazer uso de um bálsamo e cuidar das feridas. Mesmo no ambiente religioso, conforme o Senhor Jesus destacou, ao narrar a “parábola do Bom Samaritano”.
O ZELO PELA PALAVRA DE DEUS
Paulo era fiel aos ensinamentos da Palavra.
Embora se sentisse exaurido, também se sentia vencedor. Reconhecendo o caráter e os frutos do seu ministério, via-se (e também aos demais crentes), marchando vitoriosamente, conforme o costume do imperador. Seguia o seu ministério, exalando a fragrância de Cristo. Exótica fragrância! Capaz de gerar vida, mas também de determinar a morte. Paulo se sabia conduzido por Deus, em Cristo. Marchava garbosamente a sua carreira cristã, apesar de ver muitos indignos se ufanarem, pregando outro evangelho, dizendo-se mais que ele e até buscando desmerecê-lo, diante da igreja de Corinto. Afirmava, em alto e bom som, que não era mercenário da Palavra (ver capítulo 2, versos de 14 a 17).
O testemunho coerente – O apóstolo Paulo se percebe, exaltando-se. Pára e indaga: Será que começamos outra vez a recomendar a nós mesmos? Já o acompanhamos, na sua primeira carta (ver I Coríntios 4 e 9), defendendo o seu ministério apostolar e, acima de tudo, o Evangelho.
Com os ânimos mais serenados, tanto o seu próprio, como o dos destinatários da sua segunda carta, conscientemente, ele os vê como cartas de recomendação. Ele os percebe como cartas de Cristo.
A evolução do pensamento inspirado de Paulo vai dimensionando a forma como Deus trabalhou aquele grupo de irmãos. Demonstrando a ineficácia do pacto no Sinai, pois evidenciava o pecado e a impossibilidade humana em sobrepujá-lo, revela o poder da Nova Aliança em Cristo. Numa linha coerente comparativa, vai detectando as diferenças: tábuas de carne, ao invés de tábua de pedra; ministros do Espírito e não da letra; ministério de glória, vida e liberdade, não de frustração, morte e condenação.
Um ministério que glorifica a Deus – Há uma progressão, na declaração paulina, que demonstra que a glória, que Moisés conheceu, na Antiga Aliança, foi uma glória intensa, porém transitória e desvanecente. A glória, atestada na Nova Aliança, é permanente e eterna. Ela traz esperança e dá confiança para testemunhar.
O último versículo deste capítulo três confirma o poder transformador do Evangelho. A partir da sua própria experiência, o apóstolo Paulo sabia que a atuação constante do Espírito Santo faria naqueles irmãos o que ele conhecera na sua vida: a imagem de Cristo vai sendo cunhada na vida do crente, de glória em glória. Esta imagem provém do Espírito Santo. Sempre concorre para a glória de Deus.
FOCALIZANDO O QUE É ETERNO – Com extrema propriedade, a dissertação paulina se servirá de três fortes e extraordinários argumentos, que flutuam na leveza de um discurso convincente e consistente, quais sejam:
A luz do Evangelho – O Evangelho é a luz de Deus. Luz inextinguível. Luz reveladora, posto que evidencia Jesus. Paulo conhecera o fulgor daquela luz, quando Jesus lhe apareceu no caminho de Damasco (ver Atos 9.3). Paulo que estivera cego, perseguindo os cristãos, passou a ver a Luz (Jesus), embora não estivesse enxergando fisicamente, até três dias após o encontro com Jesus.
A grande limitação humana – A ressalva paulina, não é feita para conter o ímpeto humano à pregação do Evangelho ou para pôr limites à carreira cristã, visa a avivar, contudo, a lembrança de que somos pó. Termos este tesouro em vasos de barro, assegura que a honra e a glória pertencem a Deus. Nosso corpo é frágil. É um invólucro indigno de receber tal conteúdo e incapaz de resistir ao expansionismo espiritual. Deus permite que assim ocorra, sendo nós sujeitos à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo mortal (II Coríntios 4. 11). Reafirma, desta forma a crença inabalável na ressurreição de Cristo que assegura a nossa ressurreição.
O segredo da perseverança – O nosso corpo sente o peso e, como conseqüência (ou reverência), curva-se. Pode entender-se ainda, em proporção inversa, que a nossa alma, ao atravessar a ventura ou a aventura da vida, tenha o seu lastro acrescido, através das mais diversas experiências, pelas quais passa. Esta evolução está assegurada pela manifestação da graça de Deus, derramada em nossos corações. Tudo vai concorrer para isso. Todo sofrimento é nada, diante da glória que nos está proposta. O homem sem Cristo cumprirá a sua trajetória terrena, esquecido do céu. Aquele que, em Cristo Jesus, teve a sua cidadania restaurada, procurará pelas coisas que não se vêem. Agirá como Moisés, que pela fé “... perseverou como quem vê aquele que é invisível (Hebreus 11. 27b)”.
MAIS APLICAÇÕES PARA A VIDA:
Toda a vida do crente reflete a ação do Senhor. Um Deus, que busca um relacionamento com o homem, requer harmoniosos e proveitosos convívios fraternos. O amor, fluindo de Deus aos nossos corações, assegurará uma vida cristã saudável.
Aprendemos que zelar pela Palavra é testemunhar com fidelidade, porque somos cheiros de vida ou de morte. Cumpre-nos testemunhar! No nosso coração, Deus põe o Seu propósito, compete-nos vivê-lo, dignificando ao Senhor com um viver coerente.
Nossa vida deve ser escrita, mesmo em meio a tantas lutas, para a glória de Deus. A luz do Evangelho brilhou em nossos corações. Somos- conforme recomendação expressa de Jesus Cristo- convocados a exibi-la com as nossas vidas, para que os homens vejam e glorifiquem ao Pai que está no céu.
Apesar de termos as mais diversas limitações físicas (e outras tantas que produzimos), tendemos ao comodismo, deixando-nos imobilizar. É preciso perseverar, para que sejamos conduzidos por Deus na realização da Sua obra.
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