Ensinos sobre o céu e a graça suficiente de Cristo.
Idéias heréticas continuavam a ser veiculadas, provocando um convívio infrutífero e instável à igreja. Como um carro acelerando muito (fazendo muito barulho), mas sem sair do lugar, assim era a vida eclesiástica em Corinto. Muita energia despendida, porém quase nenhum avanço no crescimento espiritual daqueles irmãos. Alguns líderes se contentavam com experiências e revelações, criando uma atmosfera febril, que, antes de transparecer saúde, denunciava a enfermidade daquela liderança e também de alguns crentes. O apóstolo Paulo se vê na obrigação de intervir.
CÉU: UM LUGAR ALÉM DA IMAGINAÇÃO
Paulo já chegara à conclusão que deveria orgulhar-se, mesmo sabendo que nada lucraria com isso. Embora estivesse ciente de que toda vanglória é estúpida (II Coríntios 11. 16-21), narra um evento, aludindo a uma terceira pessoa, no entanto refere-se a ele próprio (II Coríntios 12. 2-6). Identifica-se o conflito paulino, evidenciando ser a virulenta luta que cada cristão deve travar (Romanos 7. 14-25). Ele a estava vivenciando, fazendo o que não desejava. Era-lhe quase impossível conter-se frente a afrontas que recebia daqueles arrogantes líderes.
Os falsos apóstolos apresentavam provocações, desferiam insultos a Paulo e ainda mascaravam suas imagens, com experiências e revelações ditas divinas. Surpreendentemente, o apóstolo sente-se fortalecido e encorajado, diante desta situação perturbadora. Faz alusão a um arrebatamento por que passara há catorze anos. Tratava-se de uma experiência fantástica! O próprio Paulo não sabia precisar o que acontecera. Havia sido no corpo ou fora dele? Era uma revelação espiritual! Fora transportado ao terceiro céu. O primeiro seriam as nuvens; o segundo, onde se encontram todos os astros celestes; uma atmosfera espiritual seria o terceiro céu, onde Deus está com seus anjos. No céu, ouvira palavras inexprimíveis, que o homem não pode mencionar. Ao relatar os incríveis fatos, extasiado, teme que pensem dele, além do que nele se vê, ou dele se ouve.
A GRAÇA SUFICIENTE DE CRISTO
Paulo já estava falando tanto que lhe vem à mente a renitente vaidade, contra a qual lutava. Naquele momento conflitante, espiritualmente falando, ele sai do clímax infernal da sua exaltação, para o deslumbrante e paradisíaco instante, em que se vê fraco e dependente. Então, mais se torna carente da graça de Deus. Lembra-se do espinho lancinante, importuno e indesejado, pelo qual tanto orara e com o qual convivia, fazendo-o humilde e dócil, por que se sentia débil e incapaz.
Por permissão divina, o espinho é a vacina contra o orgulho espiritual. Deus permite o sofrimento e a desonra. Ele não deseja que ninguém se orgulhe. Deus não atende à oração presunçosa. Ele conhece a todos. Deus disse não a Paulo. Deus, muitas vezes, diz “não”. Tem gente que não acredita nisso. Que pena! Quanta teimosia e rebeldia e desapontamento, por parte daqueles que só aceitam a resposta positiva.
O espinho permaneceria em Paulo, mas em contrapartida, ele receberia a graça maravilhosa, revigorante, suficiente, confortadora e poderosa. E Paulo se sabia alcançado por ela. Nos momentos mais difíceis, com toda discrição, a graça se evidenciava nele. Paulo descansava nela.
A reprimenda paulina destinava-se aos falsos apóstolos. Apresentava-lhes uma surpreendente declaração, que contrariava a oratória dos vitoriosos, dos triunfalistas. Ele lhes revela que o posicionamento apostolar correto e digno de apreciação é o daquele, que se alegra na fraqueza, para que seja manifestado o poder de Deus, pois toda a honra e toda glória pertencem a Ele.
VIDA CRISTÃ: UMA CONSTANTE AVALIAÇÃO
Irmãs e irmãos em Cristo, nos nossos dias, nós ainda identificamos muitas pessoas, querendo fazer doutrinas, a partir das suas experiências, que se lhes tornam revelações espirituais. Quanta gente ambicionando mais poder, porém pessoas despreparadas para recebê-lo. Refiro-me à responsabilidade de um viver coerente, como crente em Jesus.
Vemos servos de Deus, ocupando espaços, onde poderiam ser úteis aos ideais do Reino de Deus, porém recrudescendo seus corações, por julgarem-se mais capazes, tornam-se pouco eficientes e até imprestáveis. Não fazem a diferença, porque tão assemelhados aos incrédulos, são prepotentes e orgulhosos. Pensam que estão onde estão por seus méritos. Não prestam os serviços, que lhes cabiam fazer, porque se julgam muito. Deixam de ser maleáveis aos propósitos divinos para as suas vidas. Que equívoco tremendo! Cremos que Deus não concede mais experiências extraordinárias, porque isto alimentaria apenas a vaidade de muitos.
O Deus perfeito e justo não nos dá tentação acima da nossa força, todavia até onde possamos suportar (I Coríntios 10. 13). Quando Deus, atendendo a reclamação do povo no deserto, libera, fartamente, maná e codornizes, Ele concedia a cada um o tanto que pudesse ser devidamente consumido (Êxodo 16. 16-18). O Senhor cuida do seu povo. A graça de Cristo é a expressão do pão vivo que desceu do céu. Satisfaz-nos a todos. É a suficiência da graça.
ENVOLVIDOS PELA GRAÇA
Depois de extravasar-se, com toda sinceridade, o apóstolo lembra-lhes que desejava constituir-se em bênção na vida dos coríntios. A sua própria vida estava sendo dedicada. Ele a oferecia por amor e cria que esta entrega despertaria reciprocidade. Não visava, de modo algum, a qualquer benefício financeiro, chegando a declarar que são os pais que devem guardar bens para os filhos e não o contrário.
Sendo envolvido pela graça de Deus, Paulo os adverte para que se preparem, concertando as suas vidas em Cristo Jesus. No que concernia à disposição apostólica, estava pronto a humilhar-se.
Paulo demonstrava toda sua autoridade, pretendendo mostrar aos coríntios que Cristo fala por ele. Aponta mais uma vez para a cruz de Cristo. Invocando a sua aparente fraqueza, Ele (Jesus Cristo) vive pelo poder de Deus. Numa referência paralela, declara ele (Paulo) que está vivendo, aparentemente fraco, porém sendo fortalecido no poder de Deus e envolvido pela sua graça.
MAIS APLICAÇÕES PARA A VIDA
Paulo recomenda aos crentes coríntios um auto-exame. Estaria retornando a Corinto e confirmando aqueles que verdadeiramente eram crentes fiéis a Cristo. Se os remédios falham – lembra William Barclay (obra já citada), comentando o texto bíblico em pauta – não resta outro recurso, senão o bisturi do cirurgião.
Deus espera uma postura idônea dos seus filhos. Expressa numa vida coerente com o Evangelho de Jesus. A atitude arrogante não condiz ao cristão. Deus não vai atuar na vida daquele que age com prepotência. Jesus humilhou-se e foi à cruz por nós. Foi a humanização da divindade (a humilhação de Deus), que possibilitou a divinização da humanidade ( a exaltação do homem). Tudo se deu pela maravilhosa graça de Jesus!
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