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Solange Lívio

CONSELHOS SÁBIOS: A Exaltação ao Amor na Família (Cântico dos Cânticos 1 a 8)

Cântico dos cânticos é o último dos livros poéticos na organização sequencial dos livros da Bíblia.

Cântico, nas Escrituras, é uma composição poética, não muito extensa, que colocada em música era entoada em homenagem a homens (Gênesis 31:27; I Samuel 18:6,7) e, principalmente, em louvor a Deus (Êxodo 15:1-18, 20-21; Salmo 92, Isaías 38:9-20, entre outros textos).

O título do livro, com a duplicação da palavra cântico, não significa que seja uma coletânea de cânticos; é um superlativo que tem o significado de o melhor ou mais sublime dos cânticos, como ocorre com outras expressões (Santo dos santos, Rei dos reis, Senhor dos senhores, por exemplo), indicando ser uma composição poética de alto valor.

O livro dos cânticos fazia parte do grupo dos cinco rolos a serem lidos nas festividades judaicas. Sua leitura se dava no oitavo dia da festa da Páscoa, interpretado pelos judeus como uma referência histórica à saída do Egito.

Considerando-se ser da autoria de Salomão, das suas mil e cinco produções de cânticos, conforme nos informa I Reis 4:32, este foi o único inspirado e escolhido pelo Espírito Santo para fazer parte do cânon sagrado, tornando-se um dos livros da Bíblia.

Sendo assim, há um propósito espiritual a ser observado, embora se trate de um cântico nupcial que tem a intensidade do amor e da devoção expressos como característica principal. Cântico dos cânticos é o único livro das Escrituras que tem o amor como tema exclusivo.

Os estudiosos da Bíblia têm utilizado três métodos de interpretação para chegarem ao entendimento da mensagem de Cântico dos cânticos: literal, alegórico e típico.

Pelo método literal, o livro trata de uma história verdadeira, sendo uma narrativa do relacionamento amoroso entre um grande rei e uma humilde donzela: Salomão e Sulamita (1:1; 6:13). A beleza e a pureza do amor conjugal são colocadas em evidência, mostrando haver um equilíbrio sadio entre os excessos da imoralidade sexual e a negação da sexualidade humana.

O método alegórico abre caminho para que se veja no quadro de amor de Cântico dos cânticos a forma graciosa como Deus lida com o povo de Israel ao longo de sua história. Os judeus, que tinham grande apreço por este livro, o consideravam como alegoria espiritual, cuja finalidade era a de mostrar o amor de Deus para com Israel. Neste caso, Deus é o que ama e Israel é o amado. Aplicada ao Novo Testamento, a alegoria encontrada em Cântico dos cânticos retrata o amor de Cristo pela sua Igreja ou pela alma de cada um de seus crentes. Cristo é o que ama, a Igreja é a amada.

Outra caminho para a compreensão da mensagem de Cântico dos cânticos é o chamado método típico, pelo qual a narrativa da história de amor do livro é um exemplo, uma tipificação, do sentimento encontrado entre Deus e o seu povo. O amor puro e espontâneo, mas que também é mútuo, entre esposo e esposa na narrativa do livro exemplifica uma verdade espiritual: o mútuo amor entre Cristo e a Igreja. Muitas são as passagens bíblicas que oferecem base a esta forma de entendimento do método típico. O matrimônio espiritual entre Deus e o seu povo, no Antigo Testamento, e entre Cristo e a Igreja, no Novo Testamento, é mencionado em vários textos bíblicos como, por exemplo, em Jeremias 2:2; 3:1, na profecia de Oséias, em Efésios 5:22, em Apocalipse 19:7-9; 21:9.

Assim como a Sulamita, morena por estar queimada do sol, apresenta-se ao esposo procurando desculpar-se pelo fato de ter trabalhado tanto na vinha de outros que da sua própria não pôde cuidar (1:5-7), a Igreja, que é a noiva de Cristo, consciente de suas imperfeições decorrentes do pecado, está sendo preparada para reunir-se ao esposo sem mácula, como virgem pura, conforme informação que nos vem de II Coríntios 11:2 e Efésios 5:25-27, quando então dela se poderá dizer o que disse o esposo da Sulamita: “...em ti não há defeito” (4:7).

A esposa, em Cântico dos cânticos, demonstra preocupação com os perigos que cercam a vida do casal e pede que haja cuidados quanto a isso. Em linguagem poética, ela diz: “Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor” (2:15). Raposas e raposinhas. Perigos grandes, facilmente perceptíveis, e outros que de tão pequenos parecem inofensivos, porém ameaçadores, uns e outros.

De modo semelhante, a Igreja de Cristo deve estar consciente dos perigos que a cercam e recorrer ao Senhor para que a proteja dos devastadores, como por exemplo, dos falsos profetas que tentam destruir as suas “vinhas”, procurando implantar desvios doutrinários no meio do povo de Deus. Oração e atenção aos ensinamentos da Palavra de Deus são os principais cuidados a serem tomados como forma de proteção.

A fidelidade, requerida pelo Senhor e tantas vezes negligenciada e rompida pelo povo, é outro quesito que aparece exemplificado nas palavras da Sulamita em Cântico dos cânticos: “O meu amado é meu; e eu sou dele” (2:16). Somos levados a lembrar do que diz o Senhor: “Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo (Jeremias 7:23;11:4;24:7; Ezequiel 14:11), chamando o povo de volta à fidelidade, pelo arrependimento e abandono das transgressões.

Contudo, um aspecto ressalta à nossa observação: a ênfase que é dada ao amor e à devoção, existentes entre o casal do livro de Cântico dos cânticos, encontra o seu correspondente no Novo Testamento em Efésios 5:22-33, onde a união entre Cristo e a Igreja é apresentada como modelo ao casal cristão. Ambos os textos exaltam o amor na família, a começar pelo relacionamento entre marido e mulher.

Assim como Cristo é o cabeça da Igreja, a mesma função é atribuída ao marido no lar cristão. Cabe a ele o governo e o cuidado da família. Por isso, às mulheres está recomendada a submissão aos seus maridos, do mesmo modo que a Igreja está sujeita a Cristo. Esta submissão, no entanto, está fundamentada no amor que o marido deve dedicar à sua esposa, tal como Cristo amou a sua Igreja, a ponto de entregar-se a si mesmo por ela e dela permanece cuidando. Sendo assim, o parâmetro para o amor no lar cristão é o mais elevado possível: o amor de Cristo pela Igreja.

Porém, do mesmo modo que em Cântico dos cânticos a felicidade do casal se dá por mútua participação, assim acontece com as recomendações de Efésios 5:33: “Não obstante cada um de per si, também ame a sua própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite a seu marido”. Respeite e ame, segundo recomendação de Tito 2:4.

Que a sua família seja abençoada com mais e mais amor.

Consulta Bibliográfica

DAVIS, John D. Dicionário da Bíblia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1973. CAMERON, W. J. In, O Novo Comentário da Bíblia. Vol. II São Paulo: Vida Nova, 1963.

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