INTRODUÇÃO
Não tive o privilégio de nascer em um lar onde o temor do Senhor fosse a base. Assim, conquanto a minha família fosse religiosa e acreditasse em Deus, mantinha uma fé nominal e não conhecia os padrões divinos para que o papel de cada um e de todos fossem exercidos da maneira com que Deus projetara. O resultado não poderia ter sido outro: dores, tristezas, injustiças, violência. Lembro-me com tristeza das lágrimas sentidas que mamãe derramava ao ser vítima de tanta brutalidade do meu pai. Por outro lado, posso até ver o meu pai, em minha lembrança, a confidenciar as tragédias que enfrentara no lar de seus pais. Cresci num ambiente onde a fé cristã só era exercida de quando em quando, em datas religiosas e com objetos sagrados. Jamais o Livro de Deus havia sido consultado.
Um dia eu tive a graça de ser alcançado pelo evangelho do Senhor Jesus. O Pastor Timofei Diacov, um veterano e saudoso pastor batista, evangelizava a minha rua através de folhetos. Um deles chegou às minhas mãos. Através dele eu marquei uma entrevista em sua casa e fui apresentado à mensagem de salvação e de redenção em Jesus Cristo. Também pude contemplar uma família estruturada diante dos meus olhos: a esposa e o filho, sentados no sofá, a declamarem, com o pai, o Salmo 23. “O Senhor é o meu pastor e nada me faltará”. Aquilo me encantou. Eu, que só via enfrentamentos, violência e sofrimentos dentro de casa, agora contemplava um pai amoroso e marido presente, junto de uma esposa feliz e um filho bem criado. Pensei: "eu também quero isso para mim!" No domingo seguinte, em 24 de fevereiro de 1980, visitei a igreja onde o Pastor Timofei servia a Deus (Igreja Batista em Sumarezinho, SP), e, ao final da pregação bíblica, no apelo evangelístico, fui conduzido pelo Espírito Santo à conversão. Fui alcançado pelo Senhor.
O evangelho muda as pessoas. O evangelho transforma a nossa mente, o nosso comportamento, a nossa visão de mundo. Quando entregamos a vida a Cristo a violência sai pelos fundos, a irresponsabilidade dá lugar ao compromisso e a fé permeia os nossos atos. Transformado em cristão, logo o meu pai viu em mim algo melhor do que havia. Assim, juntamente com o meu irmão, entregou-se a Jesus Cristo três meses depois. E por último, no ano seguinte, minha mãe também rendia-se a Jesus, tornando-se uma mulher transformada, confortada e mais feliz. O meu irmão teve o privilégio de conviver, na adolescência, num lar muito melhor do que o que eu convivera e Cristo tornou-se o Senhor de nossa família. Tudo isso vem provar que “Se alguém está em Cristo nova criatura é; as coisas velhas já passaram. Eis que tudo se fez novo!” (II Coríntios 5.17).
O meu lar não se tornou perfeito. Não existem lares perfeitos! Mas agora Cristo tornara-se, de fato, Senhor de nossas vidas e submetíamos a Ele a direção de nossos corações, de nossas decisões, de nosso comportamento e de nosso aprendizado. O meu pai tornou-se um homem de Deus. Não teve muito tempo de vida, pois que era um homem muito doente. Mas foi transformado de tal maneira que procurou a cada pessoa que havia magoado ou injustiçado ao longo dos seus dias e reconciliou-se com elas. Antes de ficar cego ele leu por mais de dez vezes a Bíblia Sagrada e deixou-a em seu coração para os momentos difíceis que enfrentaria no câncer avassalador. Meu irmão tornou-se um homem de bem, um servo do Senhor, um empresário bem sucedido e hoje tem uma linda família, serve a Deus de coração e guia os seus passos à luz da Palavra do Senhor. Ele é um exemplo para mim! Minha mãezinha ainda viveu 14 anos após a morte de meu pai. Todo o sofrimento que teve foi compensado pela graça do Senhor. Ela teve um fim de vida abençoado e digno, ainda que a sua saúde declinasse a passos largos. Foi mais crente que todos nós. Orava intensamente, evangelizou a cada um de nossos familiares, tornou-se uma referência na igreja onde serviu ao Senhor. O pastor da igreja encontrava nela uma confidente, uma vovó com quem podia orar e conversar. Mamãe deixou saudades!
Como é o seu lar, distinto leitor? Um lar estruturado na Palavra de Deus, onde cada um dos membros têm consciência de sua responsabilidade? O seu lar é um pedacinho do céu? Ou, infelizmente não conhece ainda o que Deus tem para dizer sobre a família e sobre o quanto é bom seguir o caminho dele ao invés do nosso? Deus tem prazer em transformar a nossa família por pior que ela seja. Jamais haverá um lar tão difícil que não possa beneficiar-se da graça transformadora do Senhor. Este é o desejo deste conferencista e certamente é o desejo de Deus, que não quer que nenhum lar se perca, mas que todos venham a conhecer a graça do Senhor para se tornarem famílias felizes. Se Deus nos permitir, ao longo das próximas semanas, abordaremos facetas do lar cristão e os valores indispensáveis para andarmos nas veredas da felicidade.
Que Deus nos abençoe. Amém.