A Metodologia de Ensino do Mestre. Este é o tema de hoje.
A nossa atenção se volta para alguns dos ensinamentos do Senhor Jesus, porém procurando observar, além de seu conteúdo, a metodologia utilizada por nosso Salvador e Mestre divino.
Cabe, no entanto, ressaltar que não se trata simplesmente de uma lição sobre técnicas de ensino inovadoras praticadas por Jesus e de seu valor didático, ainda que isto tenha relevante importância quando se fala em ensino.
O nosso enfoque recai sobre a forma como Jesus age em relação aos mandamentos estabelecidos, de modo a dar vida a esses ensinamentos e a fazer deles instrumentos de vida. O Mestre vai além da mera letra, que leva a uma observância ritualística, mecânica e esvaziada do genuíno significado que os preceitos do Senhor abrigam, e põe em exercício o espírito da lei.
É assim que vemos o Senhor Jesus agindo em relação à observância do dia do sábado e, pelo seu agir, ensinando-nos a viver o propósito de Deus nesta lei.
Antes, porém, devemos tecer algumas considerações a respeito deste mandamento sagrado: a guarda do sábado, um dia da semana separado para ser santificado ao Senhor.
Sendo o quarto mandamento entre os dez das tábuas da lei entregues a Moisés, o sábado foi concedido pelo Senhor ao povo de Israel como um dia de descanso após seis dias de labor, para benefício do homem, trazendo consigo o sentido de um privilégio, uma vez que é um sinal da aliança entre Deus e o seu povo, como diz o Senhor em Êxodo 31:16-17: “Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, e ao sétimo dia descansou, e restaurou-se.”
Diferente dos demais mandamentos do decálogo, que guardam princípios eternos de moralidade, relativos à conduta moral do filho de Deus, a guarda do sábado tem sentido mais cerimonial: um dia santificado ao Senhor, separado para o culto, para a adoração a Deus e, também, para a interrupção de nossas atividades seculares, o que nos proporciona um abençoado descanso e nos permite a dedicação de nossa atenção e de nossos pensamentos exclusivamente àquilo que pertence ao reino de Deus. Um dia em que deixamos de nos ocupar com o que é secular para nos dedicarmos ao que é sagrado.
Além disso, apropriando-nos do privilégio do descanso neste dia, como obediência ao mandamento do Senhor, estamos honrando a Deus, a quem servimos, e testemunhando da aliança abençoadora que Deus estabeleceu com o seu povo.
O capítulo doze de Mateus apresenta-nos dois episódios a respeito de Jesus e o sábado, pelos quais o Senhor muito nos ensina.
No primeiro, o Senhor Jesus permitiu que os seus discípulos colhessem espigas num dia de sábado, para comê-las, porque estavam com Ele a caminho e sentiam fome. O fato foi observado pelos fariseus que não perderam a oportunidade para manifestarem o seu legalismo e interrogarem o Senhor Jesus.
O Mestre então respondeu, remetendo-os às Escrituras em duas passagens bíblicas. Uma delas, a de I Samuel 21:1-6, que faz referência a Davi e aos que com ele estavam, quando entraram na casa de Deus e comeram do pão sagrado da proposição, com aquiescência do sacerdote Aquimeleque, o que não lhes era lícito comer. A outra referência feita por Jesus encontra-se em Levítico 24:5-9, em especial o v. 8, e Números 28:9, em que no dia de sábado os sacerdotes realizavam o serviço de colocarem o pão e prepararem a mesa do Senhor no templo, violando assim a lei do sábado, sem que fossem considerados culpados por isso.
Respondendo assim, o Senhor Jesus aclara o nosso entendimento a respeito do significado da guarda do sábado, o que nos conduz a algumas conclusões:
• -Em caso de legítima e urgente necessidade, como ocorreu com Davi e com os discípulos de Jesus, a lei cerimonial (e a guarda do sábado é uma lei cerimonial) não é inviolável. Nas duas situações, tratava-se de saciar a fome.
• -O serviço a Deus permite a violação da guarda do sábado, apesar da proibição do trabalho geral neste dia, a exemplo do que ocorria com os sacerdotes no templo. Sendo assim, esta mesma liberdade foi concedida por Jesus aos seus discípulos que colheram as espigas num dia de sábado, quando caminhavam em sua companhia, estando eles a serviço do Mestre.
Após a citação desses dois episódios bíblicos, O Senhor Jesus acrescentou mais duas afirmações esclarecedoras. Disse o Mestre: “Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes” (Mateus 12:7), em referência a Oséias 6:6 e Miquéias 6:6-8, lembrando-nos que a conduta ética e o propósito de coração de praticar a justiça, amar a beneficência e andar humildemente com Deus são superiores ao ritual. Desvinculado desses princípios essenciais, o ritual se esvazia de seu significado.
Referindo-se a esses textos das Escrituras, O Senhor Jesus nos conduz, ainda, ao entendimento de que o sábado foi feito para benefício do homem – benefício físico e espiritual – em sinal e como decorrência da aliança de Deus com o seu povo, já mencionada. Jesus, então, nos diz claramente em Marcos 2:27: “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.”
A outra afirmação esclarecedora aparece na conclusão da resposta de Jesus aos fariseus a respeito deste assunto, quando declara a sua natureza divina apresentando-se como ‘Senhor do Sábado’.
Assim esclarecido, não demorou muito para que se fizesse ocasião propícia para Jesus por em prática aquilo que acabara de ensinar.
Indo à sinagoga dos judeus, encontrou ali um homem que tinha uma das mãos atrofiada. Os fariseus, por sua vez, aproveitaram a ocasião para fazerem mais uma das suas perguntas capciosas: “É lícito curar nos sábados?” (Mateus 12:10).
Mais uma vez Jesus respondeu de forma surpreendente. Desta feita o fez lembrando-lhes do cuidado que eles tinham com uma ovelha, um animalzinho, ao alimentá-la e socorrê-la, se necessário fosse, num dia de sábado. “Quanto mais vale um homem do que uma ovelha?”, indagou o Mestre, afirmando a seguir: “É, por conseqüência, lícito fazer bem nos sábados” (Mateus 12:12).
E, então, o ensinamento posto em prática: “Estende a tua mão” (Mateus 12:13), disse Jesus ao homem, em exercício do seu amor ao ser humano e em prática da beneficência, referida em Miquéias 6:8. Logo aquela mão ficou sã como a outra.
Assim fazendo, Jesus despertou em seus adversários um entendimento mais espiritual da lei do sábado.
Vale ressaltar, no entanto, que a resposta de Jesus não desconsidera este mandamento sagrado, nem nos libera da observância deste dever. Apenas nos ensina o seu sentido espiritual para que possamos observá-lo de acordo com a finalidade estabelecida por Deus.
Algumas outras formas de ensino fizeram parte da metodologia de Jesus, de modo a facilitar o entendimento a respeito da dinâmica espiritual do viver cristão.
Assim, encontramos Jesus falando sobre a árvore e seus frutos para ressaltar que aquilo que se passa no interior do homem se expressa em seu viver. No caso dos fariseus, os frutos que produziam revelavam a perversidade de seus corações, o que levou Jesus a dizer-lhes: “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más” (Mateus 12:34-35).
No entanto, um dos métodos mais utilizados por Jesus e mais comentados pelos estudiosos da Palavra de Deus é a parábola.
Uma parábola é um método pelo qual uma verdade espiritual é ilustrada na forma de história. J.D. Douglas, em O Novo Dicionário da Bíblia, informa que o vocábulo parábola por derivação significa ‘por coisas lado a lado’ e “visa iluminar o ouvinte apresentando-lhe ilustrações interessantes, de onde possa concluir por si mesmo a verdade moral ou religiosa.” (1)
Originalmente, Jesus a utilizava visando alcançar aqueles que ignoravam as verdades espirituais e, não aos discípulos, porque a estes era dado “conhecer os mistérios do reino dos céus”, disse Jesus em Mateus 13:11. Os mistérios, ou os segredos do Senhor, são para os que o temem, diz o Salmo 25:14.
No entanto, no capítulo 13 do livro de Mateus, encontramos sete parábolas contadas por Jesus. Quatro delas foram dirigidas à multidão, na praia: a do semeador, a do trigo e do joio, a do grão de mostarda e a do fermento, e três foram apresentadas aos discípulos, em casa: a do tesouro escondido, a da pérola, a da rede, estas de caráter mais íntimo.
As sete apresentam aspectos do reino dos céus, sendo que as duas primeiras, (a do semeador e a do joio) foram explicadas pelo próprio Senhor Jesus, o que não deixa dúvida alguma quanto à sua interpretação.
Parábolas construídas por Jesus, em sua sabedoria divinal e por seu amor sem par, a fim de fazer com que as boas novas de salvação do reino dos céus cheguem a todos os homens, de todas as classes, de todas as condições. Por isso, o Mestre utilizou elementos da experiência de vida de seus ouvintes, de modo que a participação no reino dos céus e as verdades espirituais ali simbolizadas pudessem ser mais facilmente compreendidas.
No entanto, há algo que devemos considerar quanto à compreensão das parábolas de Jesus: elas são singulares, estão intimamente ligadas à sua Pessoa, representam conteúdo essencialmente espiritual e têm finalidade espiritual. Compreendê-las implica em entender quem Jesus é e em ter coração sinceramente receptivo às verdades espirituais do reino dos céus.
Os assuntos espirituais não têm significação para aqueles que são dotados apenas de compreensão natural ou motivados somente por curiosidade intelectual. A esses os assuntos do reino dos céus permanecem obscuros. Por isso, Jesus citou o profeta Isaías, dizendo: “Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mal grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure” (Mateus 13:14 e 15).
Ouvir de bom grado, abrindo os olhos para ver e compreender com o coração, eis o segredo para a verdadeira compreensão dos ensinamentos de Jesus.
Assim façamos, tendo no íntimo a oração que nos leva a cantar:
Enquanto, ó Salvador, teu livro eu ler, Meus olhos vem abrir, pois quero ver Da mera letra, além, a Ti, Senhor; Eu venho a Ti, Jesus, meu Redentor.
(Henry Maxwell Wright) Hino 137 do Cantor Cristão
Que Deus a todos abençoe e ajude. Amém!
(1) DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 1200