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EVANGELHO DE JOÃO: ESTUDO 2 – AS PRIMEIRAS AÇÕES NO MINISTÉRIO TERRENO

João 2

Diante de nós o segundo capítulo deste abençoado evangelho. Nele encontramos o primeiro milagre de Jesus e o episódio da purificação do Templo, ambos conhecidos dos amáveis ouvintes, mas que precisam ser recordados, tamanha a importância para os dias atuais.

O primeiro episódio aconteceu na cidade de Caná da Galiléia, situada às margens do lago de Tiberíades, abaixo do nível do mar. De saída, identificamos algumas personagens deste relato. Primeiro, o noivo. As bodas eram geralmente celebradas às quartas-feiras à noite. Quem era este noivo? Não sabemos. Não temos indicações sobre o noivo e nem sobre a noiva. Mas, a pesquisa bíblica acena para possibilidade de ter sido João, o autor do evangelho, que, como era seu hábito, não se identificava pelo nome.

Outra personagem é Maria, no episódio classificada apenas como a mãe de Jesus. O nome dela é omitido, mas aparece como “mãe de Jesus” aqui e na cruz. Temos também Jesus. Os essênios se distanciavam do matrimônio. Jesus prestigiou um deles e o abençoou. Encontramos os discípulos e também os serventes. Estes apresentavam ao mestre-sala o que iriam levar à mesa.

O Mestre-sala, que em: grego significa servo ou escravo, era encarregado de dirigir e animar a cerimônia. Tem um papel mais ativo. Preside a organização do banquete, as preces, as felicitações que o acompanham. É ele que publicava o que os hebreus chamam de “cálice do anúncio”, quando a virgindade da noiva é proclamada publicamente.

O texto fala também de Talhas de pedra – eram seis. Provavelmente, seis delas estavam já vazias, o que indica que todas as purificações previstas estavam cumpridas. Água – usada para a purificação. Os convidados teriam que lavar as mãos ao pronunciarem uma bênção. A purificação implicava na lavagem das mãos antes e depois das refeições. Cada talha abrigava duas ou três medidas ou almudes – Para Chouraqui, 22 a 25 litros cada. Para os demais, 50 a 75 litros cada. Há também o vinho – provavelmente Jesus transformou 600 litros de água em vinho de excelente qualidade.

Identificados os componentes da história, podemos dividi-la em três atos ou partes. 1º. Ato: Jesus e os discípulos chegam na festa onde já se encontrava a mãe de Jesus. Em determinado momento, o vinho acaba e a mãe de Jesus se aproxima dele e diz: “não têm vinho”. Uma ocasião festiva como esta podia prolongar-se por uma semana, e o término do vinho antes do fim seria um golpe, que afetaria principalmente a reputação do hospedeiro. Ao ouvir aquela informação, Jesus tem uma reação que tem sido questionada ao longo da história: Ele responde: “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora.”

Esta expressão não parece ter o significado desrespeitoso que hoje enxergamos. Pelo contrário, tudo indica que era forma comum, perfeitamente normal naquele tempo. Em Juízes 11, 12, por exemplo, lemos: “E enviou Jefté mensageiros ao rei dos filhos de Amom, dizendo: Que há entre mim e ti, que vieste a mim a pelejar contra a minha terra?” (Jz 11,12). Grosso modo, a resposta teria o sentido de quem pergunta: que há entre mim e ti? O que temos em comum?

Talvez Maria não tivesse ainda compreendido que, desde que seu filho saiu de casa alguns meses antes, algo tinha acontecido que tornava diferente seu relacionamento anterior. Ele havia sido ungido pelo Espírito Santo e recebido poder para executar a tarefa especial que o Pai lhe conferira. Agora que ele iniciara seu ministério público, depois dos “longos anos de silêncio” em Nazaré, tudo (incluindo seus laços familiares) tinha de ser subordinado a isto. Pelo menos, é o que está por detrás da resposta surpreendente que Jesus lhe deu: Se ela desejava a sua ajuda, não poderia recebê-la com base nos laços familiares. “Ainda não é chegada a minha hora”, hora de receber glória e honra. Apesar disso, uma vez esclarecida a base da conversa, Jesus age.

No 2º. Ato, Maria se aproxima dos serventes (diáconos) e apenas instrui: “fazei tudo quanto ele vos disser”. Jesus ordena-lhes que encham de água as seis talhas de pedra. Assim acontece e Jesus orienta os serventes a que levem as talhas ao mestre-sala. Este prova a água e elogia a qualidade do vinho. Bortolini explica: “Jesus manda encher os potes de água. Mas, de acordo com o versículo 9, a mudança da água em vinho não acontece dentro deles, e sim fora. Isso demonstra que Jesus não veio para remendar a situação, mas para mudá-la radicalmente. A abundância de vinho (em torno de 600 litros) revela o amor extraordinário de Deus presente na vida e na ação de Jesus. Na festa de casamento, em Caná, ou seja, na antiga aliança, faltou vinho. A antiga aliança não tem mais sentido, pois o amor foi substituiu a Lei.”

O 3º. e último ato destaca a reação dos discípulos. Os discípulos de Jesus creram nEle, pois perceberam a manifestação da Sua glória. Os que seguem a Jesus compreendem o primeiro sinal e se unem mais a Ele.

Nosso segundo episódio pode ser encontrado nos versículos 12 a 25. Jesus sai de Cafarnaum, onde moravam Simão Pedro, André e Felipe para Jerusalém. O texto nos informa que a Páscoa dos judeus se aproximava. João menciona três páscoas esta, a registrada em 6, 4 e a última em 11,55. A primeira páscoa provavelmente aconteceu em 28eC. O Templo mencionado é o de Herodes, também chamado de Segundo Templo. Foi este templo que foi destruído no ano 70 da nossa era.

Eram quatro os pátios do templo: o maior, para não judeus, era o pátio dos gentios. Havia o pátio das mulheres, o pátio de Israel e o dos sacerdotes. Gravie nos informa que o pátio dos gentios era o lugar onde os que estavam de fora do pacto podiam se aproximar do Deus do pacto. Tudo indica que Jesus tinha uma apreciação especial por aquele lugar.

Apesar da importância do simbolismo do lugar, era na corte dos gentios que a feira de gado e o mercado de câmbio funcionavam. Ao agir assim, as autoridades religiosas estavam mostrando mais interesse pelas cerimônias ritualísticas do que pelos sentimentos devocionais. A atividade comercial perturbava a calma santa do lugar da oração. Taylor acrescenta que Jesus se indignou porque percebia que ousavam manifestar seu desdém aos gentios, por servirem-se da corte deles para a feira ou mercado.

Jesus pega o chicote. Só João menciona este chicote. Com ele, expulsa animais e vendedores. “Tirai essas coisas”, disse ele. Adoradores, judeus da dispersão, chegavam de terras distantes e trocavam suas moedas ali, na casa de oração. Jesus não tolera o que vê e nem o que ouve. Onde estava o culto? Para quê o Templo, se os adoradores são impedidos de ali chegar porque o interesse comercial falava mais alto?

Penso que não seja preciso acrescentar coisa alguma. No primeiro milagre descrito no evangelho de João, a mãe de Jesus orienta: “fazei tudo quanto Ele vos disser”. Aqui, às voltas com cambistas, animais, barulho e comércio, volta o Mestre a dizer. E o que ele diz é para ser obedecido. Digo é, porque foi naquele momento, mas ainda o é agora: “Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.” Ou “Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio.” (2,16)

Jesus não é mero reformista. É zeloso com o culto, é cumpridor da Lei. É também autor de nova vida. E essa nova vida não tolera coisa alguma que impeça você e eu de nos aproximarmos dEle. Reflitamos sobre isto.

 

APOIO BIBLIOGRÁFICO

ALLEN, Clifton J.(editor) Comentário Bíblico Broadman vol. 9 .Rio de Janeiro: JUERP. 2ª. edição. 1987. BORTOLINI, José. Como ler o Evangelho de João – O caminho da vida. São Paulo: Paulus. 7ª. edição 2005. BRUCE, F.F. João – Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão. 1987. CHOURAQUI, André. A Bíblia – Iohanân (O Evangelho Segundo João). Rio de Janeiro: Imago. 1997 TAYLOR, W.C. Evangelho de João –Tradução e Comentário. Volumes I, II e III. Rio de Janeiro:Casa Publicadora Batista. 1946.

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